segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

do fundo do mar para o mundo

Não é só o sucesso de público que faz de A Pequena Sereia um filme que vale presença na história dos desenhos animados. Ele marcou o retorno da Disney aos longas animados, já que até então fazia tempo que uma produção do estúdio do Mickey Mouse emplacava nas bilheterias, chamando a atenção tanto do público como da crítica. O animado é de tirar o chapéu: imagens deslumbrantes, canções memoráveis e roteiro inteligente.

Ariel é a filha caçula do Rei Tritão, o comandante dos sete mares. Apesar de ter muitos amigos marinhos, ela está insatisfeita com sua vida. Ariel deseja em ganhar pernas e caminhar entre os humanos para conhecê-los melhor. Enquanto seu sonho não se realiza, ela passa os dias colecionando objetos de naufrágios como garfos, espelhos e broches, sempre às escondidas do pai, que a proibiu qualquer tipo de contato com os seres da terra.

Tritão considera os humanos uns "bárbaros comedores de peixe". Mas um dia tudo muda em vida. O navio de um belo príncipe vai à pique e Ariel salva o moço, ficando completamente apaixonada por ele. No intuito de conhecê-lo, resolve firmar um pacto com a bruxa Úrsula, que faz com que ela ganhe pernas e me troca de sua voz.

Baseado na obra de Hans Christian Andersen, A Pequena Sereia trouxe de volta os velhos tempos dos musicais Disney, formato que tornou o estúdio popular nas décadas de 1930 até 1970. A animação conta com nada menos do que sete músicas originais. As canções do animado faturaram diversos prêmios na época, como o Grammy de Melhor Canção Escrita para um Filme, Globo de Ouro de Melhor Canção e o Oscar de Melhor Canção Original (Under the Sea) e de Trilha Sonora.

* texto publicado originalmente no site mundo animado (setembro/2008)

o berço da vida

Com programas ambientais, científicos e educacionais, o Geopark Araripe guarda em suas terras parte da história da evolução do planeta

A região do Cariri foi a primeira no Brasil a ganhar uma reserva florestal, em 1946, por conter em sua área exemplares importantes da fauna e da flora. Em 2006, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), fundada em 1945, transformou o local em geopark, o Geopark Araripe, o primeiro parque fossilífero das Américas. A ideia de criação de geoparks surgiu durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, o Rio de Janeiro, em 1992. O evento ficou conhecido como Eco-92. Na ocasião, os temas de proteção e preservação ambiental passaram a ser destaque dentre as principais prioridades da humanidade.

Desde então, surgiram diversas iniciativas internacionais para o reconhecimento de sítios de interesse científico. Hoje, existem apenas 58 no mundo — a maioria na Europa e na China —, e Araripe agora é um deles. Para uma área de conservação receber o título, a Unesco faz algumas exigências. Por definição, um geopark é um parque aberto da natureza, que compreende um território caracterizado por uma riqueza natural, vinculada a uma herança geológica, mas também concebido dentro de diretrizes voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, cabe ao Araripe um papel ativo na economia de seu território e no crescimento dos habitantes da região. “Desde o reconhecimento, a região do Cariri tem se transformado em um grande centro de pesquisa, turismo ecológico e de educação ambiental”, diz Idalécio Freitas, pesquisador e gerente do Geopark Araripe.

Vinculado ao Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca), o lugar compreende uma área de 5 mil quilômetros quadrados no sul do Ceará, envolvendo os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri. É onde se encontra a região da bacia sedimentar do Araripe, um dos principais sítios do período Cretáceo, com achados geológicos e paleontológicos com idade entre 110 milhões e 70 milhões de anos. O Araripe guarda mais de um terço de todos os registros de fósseis de pterossauros descritos no mundo, mais de 20 ordens diferentes de insetos e única notação da interação inseto-planta. “Todos os exemplares estão em excelente estado de conservação, sendo possível, inclusive, detectar a última refeição que o animal pré-histórico fez”, conta Idalécio.

Por meio das rochas sedimentares da região, é possível também estudar e entender a teoria da separação dos continentes e a evolução desses antigos ambientes. Há milhões de anos, a América era ligada à África, em um continente único chamado Gondwanna. Durante a separação, ocorrida há cerca de 120 milhões de anos, surgiu o Atlântico. “O atestado de nascimento do oceano é documentado de maneira convincente pelos fósseis que encontramos na região, tanto de origem terrestre quanto marinha”, diz Idalécio.

Para melhor atender à crescente oferta de cientistas e turistas que visitam o Geopark Araripe todos os dias, sua extensa área foi dividida em nove geotopes ou geossítios. “São divisões que fizemos de acordo com as peculiaridades de cada sítio do local em relação a um período histórico e a uma paisagem diferentes”, explica Idalécio. O mais importante deles é o de Santana, no Sítio Cana Brava, situado em uma area da Urca de 18 hectares, rica em fósseis. Outro que merece destaque é o de Arajara, que contém uma area de floresta de mata úmida e nascentes, situada no Parque Riacho do Meio, em uma altitude de 960 metros acima do município de Barbalha.

riqueza sustentável
Em torno do Geopark Araripe foi criado um programa de sustentabilidade que envolve geoturismo, geoeducação e geoconverção. “O local é uma gigantesca reserva natural que abriga vegetação densa, cachoeiras e 88 espécies da avifauna, além de animais como cotia, morcego e camaleão. Uma das nossas grandes tarefas é mostrar que preservar é importante para a economia local, pois incentiva o turismo”, diz Plácido Cidade Nuvens, fundador do Museu de Paleontologia e professor da Urca.

Na área educacional,há o Programa Geopark nas Escolas, em que são levadas informações de geologia, meio ambiente e cultura para os alunos do ensino fundamental e médio. Os estudantes têm ainda a chance de conhecer os geossítios em visitações monitoradas por estagiários e bolsistas. “Temos a preocupação também em ajudar a formar profissionais em geologia, dando-lhes a oportunidade de estagiar no geopark ou no Museu de Paleontologia”, conta Idalécio. Os programas de sustentabilidade ainda se dão por meio de parceria público-privada, venda de diversos materiais denominados “geoprodutos” e do apoio do governo do estado do Ceará. “Um exemplo de parceria que deu certo conosco foi com a Goóc, empresa do setor calçadista e do vestuário que utiliza como matéria-prima a reciclagem para criar seus produtos e que vem nos apoiando na divulgação do Araripe”, diz Idalécio.

Mesmo com os esforços, os projetos ainda têm contribuído pouco para a comunidade em geral, mas já é possível notar mudanças na economia local. Em Santana do Cariri, alguns artesãos trabalham com o tema paleontológico para criação de sua arte, e donos de restaurantes batizam seus pratos com nomes de dinossauros para chamar a atenção dos turistas. Em Barbalha, foi criado um aqua park que utiliza a temática. “Aos poucos, tentamos inserir os moradores locais, mas reconheço que não é uma tarefa fácil. Há muitas barreiras que estamos sempre tentando ultrapassar, pois, apesar das belezas naturais que nos circundam, a região ainda é muito pobre”, revela Idalécio.

acervo educacional
Há cerca de 20 anos, a história da humanidade tomou um novo rumo e passou a ser contada diretamente do solo da chapada do Araripe. Era inaugurado o Museu de Paleontologia da Urca, em Santana do Cariri, um pequeno município no sul do estado do Ceará. A ideia de sua criação, do professor Plácido Cidade Nuvens, nasceu no âmbito da programação das festividades do centenário da cidade, em novembro de 1985. “A finalidade do museu é proteger o acervo do contrabando, dar apoio logístico aos pesquisadores e fazer um trabalho educacional junto à população local, sobretudo entre os jovens”, explica Plácido.

A região do Cariri é um dos locais do mundo mais importantes para a pesquisa científica nas áreas arqueológicas e paleontológicas. A primeira citação dos fósseis da bacia do Araripe foi registrada em 1810 por João da Silva Feijó, um dos naturalistas enviados por Portugal para fazer o levantamento dos recursos naturais do Brasil Colônia. Desde então, os sítios passaram a ser alvo de contrabandistas. “Para garantir que as peças chegassem ao museu, fizemos uma campanha de conscientização da população sobre a importância da entidade como o melhor destino para os fósseis e a relevância desses achados”, conta.

Para enfatizar isso, o museu, que recebe hoje cerca de 20 mil visitantes por ano e detém um precioso acervo de aproximadamente 10 mil fósseis, promove exposições itinerantes pelo Brasil. Foram feitas duas no Geopark Araripe, uma na Bahia e outra em Fortaleza, no Centro Cultural Dragão do Mar. O museu também já expôs em São Paulo, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), levando, além de representação gráfica, exemplares de fósseis da bacia do Araripe. Há outros projetos de exposições desse tipo que aguardam verbas para poder ser realizados. “Só mostrando esse acervo é que faremos com que as pessoas aprendam a valorizar e a proteger o Geopark”, afirma Idalécio.

* texto publicado originalmente na revista bravo! - especial ceará (outubro/2009)

domingo, 23 de janeiro de 2011

o país dos raios

Semana passada, os raios fizeram suas vítimas fatais: Daniel Souza dos Santos, 15 anos, Renata Baudívia, 12 (no Parque Villa-Lobos, em São Paulo), Mário Nunes Pereira, 62 (no Parque do Carmo, em São Paulo), o argentino Fedrerico Bignatta, 19 (na praia de Torres, no Rio Grande do Sul), Daltro Amaral, 39 (interior de Cacequi, na Região Central). “As pessoas morrem por não terem informação sobre como se proteger durante uma tempestade”, alerta Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar de o Brasil ser considerado o país dos raios – cerca de 100 milhões de relâmpagos ocorrem por aqui todos os anos –, tragédias como essas são raras. Estima-se que cerca de 150 pessoas morram por ano por causa desse fenômeno da natureza. “A chance de uma pessoa ser atingida diretamente por um relâmpago é algo em torno de 1 em 1 milhão”, diz Osmar. Mas é bom lembrar que a maioria das mortes e ferimentos não são devido à incidência direta, mas a efeitos indiretos. “Quando o raio cai no solo, a corrente elétrica se propaga em várias direções e penetra no corpo, causando parada cardíaca ou respiratória”, explica Osmar.

Além disso, ao atingir algo – uma árvore, por exemplo -, o relâmpago produz centelhas, que vão ricochetear para o lado. “Mesmo tendo uma descarga elétrica bem mais fraca, são letais e causam queimaduras”, completa Osmar. Nesses casos, se a pessoa for socorrida a tempo é bem provável que sobreviva.

proteja-se dos raios
Cobrir espelhos, não socorrer uma vítima por medo de levar um choque ou achar que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar não passam de meros mitos. Por isso, o melhor é esquecê-los e agir corretamente.

1. Ao ouvir o primeiro trovão, é quase certo que a tempestade esteja, no máximo, a 10 quilômetros do local onde você se encontra. Assim, procure um abrigo em ambientes fechados.
2. Afaste-se de tomadas, canos de metais, janelas e portas metálicas.
3. Se estiver dentro do carro, feche os vidros e não toque nas peças de metal. Permaneça lá até a tempestade passar.
4. Não use o telefone, a não ser que seja sem fio.
5. Não fique próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas.
6. Nem pense em tocar em qualquer equipamento ligado à rede elétrica, como geladeiras, micro-ondas e televisão.
7. Não segure objetos metálicos longos, como varas de pesca, tripés e tacos de golfe se estiver na rua sob uma tempestade.
8. Não fique dentro de piscinas ou no mar e evite pisar em poças d’água. A água, além de condutora de eletricidade, atrai raios.
9. Não permaneça em locais abertos, como campos de futebol e estacionamentos.
10. Se você estiver em um local como campo ou praia sem um abrigo próximo, ajoelhe-se e curve-se para a frente, colocando suas mãos nos joelhos e sua cabeça entre eles.

* publicado originalmente na revista tudo (janeiro/2001)